Aflições

Bendize a dificuldade e a incompreensão, no caminho por onde jornadeias com outras almas.

Aflige-se a avezita na casca estreita do ovo que gerou para defrontar horizontes infinitos.

Aflige-se o embrião humilde na semente vencida para agigantar-se na superfície da Terra.

Aflige-se o filete de água, esguichando pela frincha da rocha para correr na várzea ampla.

Aflige-se o botão de rosa dobrado sobre si mesmo, desejando arrebentar-se em perfume para espalhar-se na amplidão.

Aflige-se a lagarta imobilizada na histólise para que a borboleta colorida flutue na leve manhã primaveril.

Aflige-se a alma no casulo da carne para alçar-se aos horizontes da vida imperecível.

No entanto, é necessário examinar em profundidade a própria aflição.

Há aflição que traduz vida e elevação.

Aflição para partir os elos que atam o espírito ao crime, ensejando liberdade.

Aflição para acender luz no íntimo, propiciando claridade.

Aflição em comunicar a verdade, felicitando corações.

Aflição para esquecer o mal, criando serenidade e alegria.

Aflição para vencer dificuldades, movimentando programas de ação edificante.

Aflição pelo sábio aproveitamento do tempo, valorizando a bênção das horas...

...E aflição que expressa insânia e morte.

Aflição por liberdade que é libertinagem.

Aflição por gozo que destrói a paz interior.

Aflição por amor que representa paixão animalizante.

Aflição por dinheiro que é penitenciária dourada.

Aflição pelo poder que se transforma em loucura.

Aflição por glórias que se fazem cumplicidade com o crime.

Aflição por honrarias enganosas que se cristalizam em ridículo e farsa.

Aflição no ódio que se faz veneno letal.

Aflitos e afligidos.

Aflitos em busca de paz.

Afligidos pelos tormentos da morte.

Almas atormentadas e espíritos sedentos de luz sempre os houve.

Com Jesus aprendemos a libertar-nos de todos os tormentos e suportar todas as aflições...

Conserva a tua paz quando a aflição do mundo te convocar ao mundo dos desequilibrados, e persevera lutando pela conquista dos tesouros inalienáveis do reino de Deus...

Vitorioso, por fim, constatarás, deslumbrado, quando fluíres a paz que dEle emana, o galardão da imortalidade, confirmando o inesquecível enunciado:

"Bem-aventurados os aflitos porque seerão consolados."

Autor: Joanna de Ângelis
Do livro: Messe de Amor

Anjos desconhecidos

Há guardiões espirituais que te apoiam a existência no plano físico e há tutores da alma que te protegem a vida mesmo na Terra.

Frequentemente, centralizas a atenção nos poderosos do dia, sem ver os companheiros anônimos que te ajudam na garantia do pão. Admiras os artistas renomados que dominam os cartazes da imprensa e esqueces facilmente os braços humildes que te auxiliam a plasmar, no santuário da própria alma, as obras-primas da esperança e da paciência. Aplaudes os heróis e tribunos que se agigantam nas praças; todavia, não te recordas daqueles que te sustentaram a infância, de modo a desfrutares as oportunidades que hoje felicitam. Ouves, em êxtase, a biografia de vultos famosos e quase nunca te dispões a conhecer a grandeza silenciosa de muitos daqueles que te rodeiam, na intimidade doméstica, invariavelmente dispostos a te estenderem generosidade e carinho.

Homenageia, sim, os que te acenam dos pedestais que conquistaram, merecidamente, à custa de inteligência e trabalho; contudo, reverencia também aqueles que talvez nada te falem e que muito fizeram e ainda fazem por ti, muitas vezes ao preço de sacrifícios pungentes.

São eles pais e mães que te guardaram o berço, professores que te clarearam o entendimento, amigos que te guiaram à fé e irmãos que te ensinarm a confiar e servir... Vários deles jazem agora, na retaguarda, acabrunhados e encarnecidos, experimentando agoniada carência de afeto ou sentindo o frio do entardecer; alguns prosseguem obscuros e devotados, no amparo às gerações que retomam a lide terrestre, enquanto outros muitos, emboras enrugados e padecentes, quais cireneus do caminho, carregam as cruzes dos semelhantes.

Pensa nesses anjos desconhecidos que se ocultam na armadura de carne, e, de quando em quando, unge-lhes o coração de reconhecimento e alegria. Para isso, não desejam transfigurar-se em fardos nos teus ombros. Quase sempre, esperam de ti, simplesmente, leve migalha das sobras que atiras pela janela ou uma frase de estímulo, uma prece ou uma flor.


Autor: Emmanuel
Do livro: Justiça Divina

Examinadores

Observando a Terra, do ponto de vista espiritual, podemos compará-la a imensa escola, com vários cursos educativos.

O aluno inicia o aprendizado pela matrícula.
O espírito começa o grande estágio carnal pela certidão de berço.

O primeiro ingressa na classe que lhe compete.
O segundo é conduzido ao ambiente a que mais se ajusta.

Pequeninos, sorriem no jardim da infância, ensaiando ideais da vida.
Almas primitivas, na verdura da selva, adquirem noções de comportamento.

Há crianças nas letras primárias, dominando o alfabeto.
Há irmãos, em lutas menores, penetrando os domínios da experiência.

Existem jovens, nos bancos da instrução internmediária, disputando conquistas mais altas.
Possuímos inúmeros companheiros em tarefa importante, marchando para mais elevados conhecimentos.

Contam-se, ainda, aqueles que se ergueram às instruções de ensino superior, buscando a especialização profissional ou científica, de modo a participarem da elite cultural, no progresso da humanidade.
Vemos, igualmente, corações amadurecidos, a transitarem na universidade do sofrimento, procurando as aquisições de amor e sabedoria que lhes confiram acesso ao escol da sublimação, na espiritualidade vitoriosa.

Assim, pois, se te vês no círculo das grandes aflições ou dos grandes problemas, é que já ascendeste aos centros de adestramento maior para assimilação de virtudes excelsas.

Recebeste, desse modo, os parentes difíceis e os amigos complexos, os adversários gratuitos e os irmãos desafortunados, tanto quanto aqueles que te apredejam e ferem, perseguem e caluniam, por examinadores constantes de teu aproveitamento nas ciências da alma, por instrutores na luta cotidiana... Cada um deles, hora a hora, te examina o grau de paciência e serviço, caridade e benevolência, perdão e fé viva, bom ânimo e entendimento.

E, lembrando-te de que o próprio Cristo sofreu ironia e espancamento entre eles, no dia da cruz, asserena-te na banca de provas em que te encontras, aprendendo a valorizar, em teu próprio favor, o poder da humanidade e a força da compaixão.


emmanuel
Do livro: Religião dos espíritos

Afliges-te

Afliges-te com a vizinhança do parente menos simpático.

Esqueces-te, no entanto, dos que vagueiam sem rumo.

Afliges-te com leve dor de cabeça que o remédio alivia.

Esqueces-te, porém, dos que carregam a provação da loucura na grade dos manicômios.

Afliges-te por perder a condução, no momento oportuno.

Esqueces-te, entretanto, dos que jazem detidos em catres de sofrimento, suspirando pelo conforto de se arrastarem.

Afliges-te pelo erro sanável da costureira, na vestimenta que encomendaste.

Esqueces-te, contudo, daqueles que ostentam a pele ultrajada de chagas, sem se queixarem.

Afliges-te em casa porque alguém te não fez o prato de preferência.

Esqueces-te, todavia, dos que varam a noite, atormentados de fome.

Afliges-te com as travessuras do filhindo desajustado.

Esqueces-te,contudo, das crianças perdidas, ao sabor da intempérie.

Afliges-te, por insignificantes deveres no ambiente doméstico.

Esqueces-te, porém, dos que choram sozinhos, no leito dos hospitais.

Afliges-te, tantas vezes, por bagatelas!...

Fita, no entanto, a retaguarda e, reparando as aflições dos outros, agradecerás ao Senhor a própria felicidade que não conseguias ver.


Emmanuel
Do livro: O Espírito da Verdade

O Homem de Bem

O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza. Se ele interroga sua consciência sobre seus próprios atos, pergunta se não violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se desperdiçou voluntariamente uma ocasião de ser útil, se ninguém tem do que se queixar dele, pergunta, enfim, se fez aos outros tudo o que desejava que os outros fizessem por ele.

Tem fé em Deus, em sua bondade, em sua justiça, e em sua sabedoria; sabe que nada acontece sem a sua permissão, e submete-se à sua vontade em todas as coisas.

Tem fé no futuro; por isso coloca os bens espirituais acima dos bens temporais.

Ele sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções, são provas ou expiações, e as aceita sem se lamentar.

O homem de bem, inspirado pelo sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperança de retorno; retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte e sempre sacrifica o seu interesse pela justiça.

Encontra satisfação nos benefícios que distribui, nos serviços que presta, nas alegrias que proporciona, nas lágrimas que faz estancar, nas consolações que proporciona aos aflitos. Seu primeiro ímpeto é pensar nos outros, antes de pensar em si, é buscar o interesse dos outros antes do seu próprio. O egoísta, ao contrário, Calcula as vantagens e as perdas de toda ação generosa.

O homem de bem é humano, é bom e benevolente para todo mundo, sem distinção de raças, nem de crenças, porque vê irmãos em todos os homens.

Respeita todas as convicções sinceras nos outros, e não amaldiçoa aqueles que não pensam como ele.

Em todas as circunstâncias a caridade é o seu guia; reconhece que aquele que prejudica o seu semelhante com palavras maldosas, que fere a suscetibilidade de pessoas com o seu orgulho ou o seu desdém, que não desiste diante da idéia de causar um sofrimento, uma contrariedade, mesmo leve, quando poderia evitá-la, falta ao dever do amor ao próximo e não merece a clemência do Senhor.

Não tem ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, ele perdoa e esquece as ofensas, e só se lembra dos benefícios, porquanto sabe que será perdoado, assim como ele mesmo houver perdoado.

É indulgente para com as fraquezas dos outros, porque sabe que também necessita de indulgência, e se recorda destas palavras do Cristo: “Que aquele que está sem pecado lhe atire a primeira pedra.”

Não sente prazer em procurar os defeitos dos outros, nem em colocá-los em evidência. Se a necessidade a isso o obriga, procura sempre o bem que pode atenuar o mal.

Estuda as suas próprias imperfeições, e trabalha incessantemente para combatê-las. Todos os seus esforços são empregados para que amanhã possa dizer que existe nele algo melhor do que na véspera.

Não procura fazer valer nem seu espírito, nem seus talentos a custa de outros; ao contrário, aproveita todas as oportunidades para fazer sobressair as qualidades dos outros.

Não se envaidece da sua fortuna, nem das suas vantagens pessoais, porque sabe que tudo quanto lhe foi dado pode ser retirado.

Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, porque sabe que se trata de um depósito do qual terá que prestar contas; sabe também que o emprego que lhes pode dar, mais prejudicial para si mesmo, é o de utilizá-los para a satisfação das suas paixões.

Se a ordem social colocou pessoas sob a sua dependência, ele as trata com bondade e benevolência, porquanto, perante Deus, são iguais a ele. Usa a sua autoridade para lhes levantar o moral, e não para esmagá-los com o seu orgulho, e evita tudo o que poderia tornar sua posição subalterna mais penosa ainda.

A pessoa subordinada, por sua vez, compreende os deveres da sua posição, e tem escrúpulos em não cumpri-los conscienciosamente.

O homem de bem, enfim, respeita nos seus semelhantes todos os direitos que as leis da Natureza lhes concede, como desejaria que os seus fossem respeitados.

O que acabamos de expor não é a enumeração completa de todas as qualidades que distinguem o homem de bem, mas todo aquele que se esforça para possuir as que aqui foram citadas, está no caminho que conduz a todas as outras.




Allan Kardec
O Evangelho Segundo o Espiritismo

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