A crise moral

A crise moral
A crise moral
Certamente, a época em que vivemos é grande pela soma dos progressos realizados. A civilização moderna, extremamente utilitária, transformou a face da Terra; reaproximou os povos, suprimindo-lhes as distâncias. A instrução foi estendida; as instituições foram melhoradas. O direito substitui o privilégio, e a liberdade triunfa do espírito de rotina e do princípio de autoridade. Uma grande batalha se trava entre o passado, que não quer morrer, e o futuro, que se esforça para nascer para a vida. Em favor dessa luta, o mundo se agita e caminha; uma impulsão irresistível o arrasta; e o caminho percorrido, os resultados adquiridos nos fazem pressagiar conquistas ainda mais maravilhosas.

Todavia, se os progressos de ordem material e de ordem intelectual são notáveis, por outro lado, o avanço moral é nulo. Nesse ponto, o mundo parece recuar muito mais; as sociedades humanas, febrilmente absorvidas pelas questões políticas, pelas empresas industriais e financeiras, sacrificam ao bem-estar seus interesses morais.

Se a obra da civilização nos aparece sob aspectos magníficos, ela tem também, como todas as coisas
humanas, sombras escondidas. Sem dúvida ela melhorou, numa certa medida, as condições da existência, mas multiplicou as necessidades de tanto satisfazê-las; aguçando os apetites, os desejos, favoreceu tanto o sensualismo que aumentou a depravação. O amor ao prazer, ao luxo, às riquezas tornou-se cada vez mais ardente. Quer-se adquirir, quer-se possuir a qualquer preço.

Daí essas especulações desavergonhadas que se instalam em plena luz. Daí esse abatimento dos caracteres e das consciências, esse culto fervoroso que se rende à fortuna, verdadeiro ídolo cujos altares substituíram os das divindades decaídas.

A ciência e a indústria centuplicaram as riquezas da Humanidade, mas dessas riquezas apenas uma pequena parte dos seus membros aproveitou diretamente. A sorte dos pequenos tornou-se precária, e a fraternidade ocupou mais lugar nos discursos do que nos corações. No meio das cidades opulentas, pode-se ainda morrer de fome. As usinas, as aglomerações operárias, focos de corrupção física e moral, tornaram-se como que infernos do trabalho.



Autor: Léon Denis
Do Livro: Depois da Morte

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