A Caridade |
Em oposição às religiões exclusivas que tomaram como preceito: “Fora da Igreja não há salvação”, como se seu ponto de vista puramente humano pudesse decidir a sorte dos seres na vida futura, Allan Kardec coloca essas palavras no frontispício de suas obras: Fora da Caridade não há salvação. Os espíritos nos ensinam, com efeito, que a caridade é a virtude por excelência; só ela dá a chave dos planos elevados.
“É preciso amar os homens”, repetem após o Cristo, que resumira nessas palavras todos os mandamentos da lei moral.
Mas, objetam, os homens não são muito amáveis. Muita maldade incuba-se neles e a caridade é muito difícil de se praticar com relação a eles.
Se os julgamos dessa forma, não será porque nos agrada considerar unicamente o lado mau dos seus caracteres, seus defeitos, suas paixões, suas fraquezas, esquecendo, com muita frequência, de que nós mesmos não estamos isentos e que, se eles têm necessidade de caridade, teremos menos necessidade de indulgência?
Todavia, o mal não reina sozinho nesse mundo. Há no homem, também, o bem, qualidades, virtudes. Há, sobretudo, sofrimentos. Se queremos ser caridosos e devemos sê-lo, em nosso próprio interesse como no interesse da ordem social, não nos prendamos, nos nossos julgamentos sobre nossos semelhantes, naquilo que pode nos levar à maledicência, à difamação, mas vejamos sobretudo no homem um companheiro de provas, um irmão de armas na luta da vida. Vejamos os males que ele suporta em todas as classes da sociedade. Quem é que não esconde uma chaga no fundo da sua alma? Quem não suporta o peso de desgostos, de amarguras? Se nos colocássemos nesse ponto de vista para considerar o próximo, nossa maledicência transformar-se-ia rapidamente em simpatia.