A Prece

A Prece
A Prece
Nessas conversas da alma com a Potência Suprema, a linguagem não deve ser preparada, anotada com antecedência; deve variar segundo as necessidades, o estado do espírito do ser humano. É um grito, um lamento, uma efusão ou um canto de amor, um ato de adoração, um inventário moral feito sob o olhar de Deus, ou, ainda, um simples pensamento, uma lembrança, um olhar levantado para os céus.

Não há horas para a prece. É bom, sem dúvida, elevar seu coração a Deus no início e no fim do dia. Mas se se sentirem indispostos, não orem. Em compensação, quando sua alma for abrandada, transportada por um sentimento profundo, pelo espetáculo do Infinito, mesmo que seja à beira dos oceanos, sob a claridade do dia ou sob a cúpula cintilante das noites, no meio dos campos e dos bosques sombrios, no silêncio das florestas, orem, então; é boa e grande toda causa que molhe seus olhos de lágrimas, faça dobrar seus joelhos e jorrar do seu coração um hino de amor, um grito de adoração em direção à Potência Eterna que guia seus passos na beira dos abismos.


Seria um erro acreditar que tudo podemos obter pela prece, que sua eficácia é bastante grande para desviar de nós as provações inerentes à vida. A lei de imutável justiça não poderia dobrar-se aos nossos caprichos. Alguns pedem a fortuna, ignorando que seria uma infelicidade para eles, dando um livre impulso às suas paixões. Outros querem afastar males que são, às vezes, a condição necessária aos seus progressos. Suprimi-los teria como efeito tornar sua vida estéril. Por outro lado, como Deus poderia atender a todos os desejos que os homens exprimem nas suas preces? A maioria é incapaz de discernir o que lhe convém, o que lhe seria mais proveitoso.

Na prece que dirige cada dia ao Eterno, o sábio não pede que seu destino seja feliz; não pede que a dor, as decepções,os reveses sejam afastados de si. Não! O que deseja é conhecer a Lei para melhor cumpri-la; o que implora é a ajuda do Alto, o socorro dos espíritos benevolentes, a fim de suportar dignamente os maus dias. E os bons espíritos respondem ao seu apelo. Eles não procuram desviar o curso da justiça, entravar a execução dos divinos decretos. Sensíveis aos sofrimentos humanos, que conheceram, suportaram, trazem aos seus irmãos da Terra, a inspiração que os sustenta contra as influências materiais; favorecem esses nobres e salutares pensamentos, esses impulsos do coração que, transportando-os para as altas regiões, livram-nos das tentações e das armadilhas da carne. A prece do sábio, feita num recolhimento profundo, fora de qualquer preocupação egoística, desperta nele essa intuição do dever, esse sentimento superior do verdadeiro, do bem e do justo, que o guiam através das dificuldades da existência e o mantêm em comunhão íntima com a grande harmonia universal.



Autor: Léon Denis
Do livro: Depois da Morte.

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