A Vontade

A Vontade
Pela vontade criadora dos grandes espíritos e, acima de tudo, do Espírito divino, toda uma vida maravilhosa se desenvolve e se escalona, gradualmente, ao Infinito, nas profundezas do céu, vida incomparavelmente superior a todas os esplendores criados pela arte humana, e tanto mais perfeita, quanto mais se aproxima de Deus.

Se o homem conhecesse a extensão das forças que nele existem em germe, talvez ficasse deslumbrado; mas, em vez de se julgar fraco e de temer o futuro, compreenderia sua força; sentiria que ele próprio pode criar esse futuro.

Cada alma é um foco de vibrações que são ativadas pela vontade. Uma sociedade é um agrupamento de vontades que, quando unidas, voltadas para um mesmo objetivo, constituem um centro de forças irresistíveis. As humanidades são focos ainda mais poderosos, que vibram na imensidão.

Pela educação e pelo treinamento da vontade, certos povos chegam a resultados que parecem milagres.


A energia mental, o vigor do espírito dos japoneses, sua indiferença pela dor, sua impassibilidade diante da morte, causaram espanto aos ocidentais e foram, para estes, uma espécie de reve lação. O japonês habitua-se, desde a infância, a dominar suas impressões, a nada deixar transparecer de seus aborrecimentos, decepções, sofrimentos, a conservar-se impenetrável, a nunca se lamentar, a nunca se encolerizar, a sempre encarar de boamente a má sorte.

Tal educação tempera os caracteres e assegura o sucesso em todas as coisas. Na grande tragédia da existência e da história, o heroísmo representa papel capital, e é a vontade que faz os heróis.

Este estado de espírito não é exclusividade dos japoneses.

Os hindus, através do que chamam “hatha-yoga”, ou exercício da vontade, chegam a suprimir em si a sensação da dor física.

Por aí, pode-se avaliar quanto a educação mental e o objetivo dos asiáticos são diferentes dos nossos. Tudo, entre eles, tende a desenvolver o homem interior, sua vontade, sua consciência, tendo em vista os vastos ciclos de evolução que lhes estão abertos, enquanto o europeu adota preferentemente como objetivo os bens imediatos, limitados ao círculo da vida presente. Os objetivos a atingir, nos dois casos, são divergentes, e esta divergência resulta de uma concepção essencialmente diferente do papel do ser no Universo. Há muito tempo, os asiáticos têm considerado com um misto de assombro e piedade nossa agitação febril, nossa paixão por coisas circunstanciais e efêmeras, nossa ignorância das coisas estáveis, profundas, indestrutíveis, que constituem a verdadeira força do homem. Daí, o contraste impressionante existente entre as civilizações do Oriente e do Ocidente. Evidentemente, a superioridade pertence àquela que divisa o horizonte mais vasto e se inspira nas verdadeiras leis da alma e seu porvir. Ela pode ter parecido atrasada aos observadores superficiais, durante o tempo em que as duas civilizações evoluíram paralelamente, sem muito se chocar. Mas desde que as necessidades da existência e a pressão crescente dos povos do Ocidente forçaram os asiáticos a entrar na corrente dos progressos da modernidade – e este é o caso dos japoneses – pôde-se ver que as qualidades eminentes daquela raça, manifestando-se no domínio material, também podiam assegurar-lhes a supremacia. Caso este estado de coisas se acentue, como é de se temer, se o Japão obtiver sucesso em carregar com ele todo o Extremo Oriente, é possível que a dominação do mundo mude de eixo e passe de uma raça a outra, principalmente, se a Europa persistir em se desinteressar por aquilo que constitui o mais elevado objetivo da vida humana e em contentar-se com um ideal inferior e quase bárbaro.



Autor: Léon Denis
Do livro: O Problema do Ser e do Destino

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