A Crise Moral

A Crise Moral
Uma sociedade sem esperança, sem fé no futuro, é como um homem perdido no deserto, como uma folha morta que rola ao sabor dos ventos. É bom combater a ignorância e a superstição, mas é preciso substituí-las pelas crenças racionais. Para caminhar com passo firme na vida, para se preservar das falhas e das quedas, é necessária uma convicção robusta, uma fé que nos eleve acima do mundo material; é preciso ver o obje tivo e atingi-lo, retamente. A arma mais segura no combate terrestre é uma consciência reta e esclarecida.

Mas se a ideia do nada nos domina, se cremos que a vida não tem amanhã e que com a morte tudo termina, então, para ser lógicos, o cuidado da existência material e o interesse pessoal deverão se sobrepor a qualquer outro sentimento. Pouco nos importará um futuro que não deveremos conhecer! A que título nos falarão de progresso, de reformas, de sacrifícios? Se apenas há para nós uma existência efêmera, só nos resta aproveitar o momento presente, tomar as alegrias e abandonar os sofrimentos e os deveres! Tais são os raciocínios aos quais chegam, forçosamente, as teorias materialistas; raciocínios que ouvimos formular e que vemos aplicar todo dia em torno de nós.


Que estragos podemos esperar dessas doutrinas, no meio de uma civilização rica, já muito desenvolvida no sentido do luxo e prazeres físicos?

Entretanto, todo ideal não está morto. A alma humana tem, às vezes, o sentimento da sua miséria, da insuficiência da vida presente e da necessidade do Além. No pensamento do povo, uma espécie de intuição subsiste; enganado durante séculos, tornou-se incrédulo diante de qualquer dogma, mas não é cético. Vagamente, confusamente, ele crê, aspira à justiça. E esse culto da lembrança, essas manifestações emocionantes do 2 de novembro, que levam as multidões aos túmulos dos mortos amados, denotam, também, um instinto confuso da imortalidade.

Não, o povo não é ateu, já que crê na justiça imanente, como crê na liberdade, pois todas duas existem por ordem de leis eternas e divinas. Esse sentimento, o maior, o mais belo que se possa encontrar no fundo da alma, esse sentimento nos salvará. Por isso, bastará fazer com que todos compreendam que essa noção, gravada em nós, é a própria lei do Universo, que ela rege todos os seres e todos os mundos e que, através dela, o bem deve, finalmente, triunfar do mal e a vida surgir da morte.



Autor: Léon Denis
Do livro:Depois da Morte

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