Cada dia

Cada dia
Cada dia
Cada dia, a desesperança causa novamente devastações: o número de suicidas que em 1820 era de mil e quinhentos, na França, é agora de mais de oito mil. Oito mil seres, a cada ano, desertam das lutas fecundas da vida por falta de energia e de senso moral e se refugiam no que acreditam ser o nada! O número dos crimes e delitos triplicou há cinquenta anos. Entre os condenados, a proporção dos adolescentes é considerável. É preciso ver nesse estado de coisas os efeitos do contágio do meio, dos maus exemplos recebidos desde a infância, a ausência de firmeza dos pais e a falta de educação na família? Há tudo isso, e mais ainda.

Nossos males provêm daquilo que o homem ignora de si mesmo, apesar dos progressos da Ciência e o desenvolvimento da instrução. Ele sabe pouca coisa das leis do Universo; ele nada sabe das forças que nele estão. O “Conhece-te a ti mesmo” do filósofo grego permaneceu, para a imensa maioria dos humanos como um apelo estéril. Não há mais que vinte séculos, menos talvez, o homem de hoje não sabe o que ele é, de onde vem, para onde vai, qual é o seu objetivo real da existência. Nenhum ensinamento veio lhe dar a noção exata do seu papel nesse mundo nem de seus destinos.

O espírito humano flutua, indeciso, entre as solicitações de duas potências.

De um lado, as religiões com seu cortejo de erros e de superstições, seu espírito de dominação e de intolerância; mas também, com as consolações das quais são a fonte e as fracas luzes que guardaram das verdades primordiais.

Do outro, a Ciência, materialista nos seus princípios como nos seus fins, com suas frias negações e sua tendência exagerada ao individualismo; mas também, com o prestígio das suas descobertas e de seus benefícios.

E esses dois colossos, a religião sem provas e a Ciência sem ideal, desafiam-se, exterminam-se combatem-se sem poder vencer-se, pois cada uma delas responde a uma necessidade imperiosa do homem, uma, falando ao seu coração, a outra, dirigindo-se ao seu espírito e à sua razão. Em torno delas acumulam-se as ruínas de numerosas esperanças e de aspirações destruídas; os sentimentos generosos enfraquecem-se, a divisão e o ódio substituem a benevolência e a concórdia.



Autor: Léon Denis
Do Livro: Depois da Morte

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