A reforma do caráter

A reforma do caráter
É preciso saber suportar todas as coisas com paciência e serenidade. Quaisquer que sejam os procedimentos de nossos semelhantes, com relação a nós, não devemos nutrir, contra eles, animosidade alguma, ressentimento algum, mas, ao contrário, fazer com que todas as causas de aborrecimento ou de aflição sirvam a nossa própria educação moral. Nada poderia nos atingir, se, em nossas vidas anteriores e culposas, não tivéssemos dado margem à adversidade. Eis o que precisamos nos dizer continuamente. Assim, conseguiremos aceitar, sem amargura, todas as provas, considerando-as como uma reparação do passado ou como um meio de aperfeiçoamento.

De degrau em degrau, atingiremos, assim, esta paz de espírito, este domínio de nós mesmos, esta confiança absoluta no porvir, que dão a força, a quietude, a satisfação íntima e permitem que nos mantenhamos firmes, em meio às mais duras vicissitudes.

Chegando a idade, as ilusões, as esperanças vãs, caem, como folhas mortas; mas, as elevadas verdades aparecem, então, mais brilhantes, como as estrelas no céu de inverno, por entre os galhos desfolhados de nossos jardins.


Pouco importa, portanto, que o destino não nos tenha oferecido glória alguma, sorriso algum, nenhum lampejo de alegria, se tiver enriquecido nossa alma com mais uma virtude, com um pouco de beleza moral. As vidas obscuras e atormentadas são, às vezes, as mais fecundas, ao passo que as vidas brilhantes nos prendem, com muita frequência e por longo tempo, à terrível corrente das responsabilidades.

A felicidade não está nas coisas exteriores nem nos acontecimentos fortuitos, a nosso redor, mas, apenas em
nós mesmos, na vida interior que sabemos criar para nós. Que importa que o céu esteja negro, acima de nossas cabeças, que os homens em torno de nós sejam maus, se temos, na fronte, a luz, e, no coração, a alegria do bem e a liberdade moral? Porém, se eu tiver vergonha de mim mesmo, se o mal tiver invadido meu pensamento, se o crime e a traição morarem em mim, nem todos os favores, nem todas as felicidades da Terra me trarão a paz silenciosa e o júbilo da consciência. O sábio, ainda neste mundo, cria, em si mesmo, um refúgio seguro, um lugar sagrado, um retiro profundo, onde não chegam as discórdias nem as contradições do exterior. Também na vida do Espaço, a sanção do dever e a realização da justiça são totalmente de ordem íntima. Cada alma traz em si sua claridade ou sua sombra, seu paraíso ou seu inferno.



Autor: Léon Denis
Do Livro: O Problema do Ser e do Destino

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