O Egoísmo

O Egoísmo
O Egoísmo
Não nos sentemos jamais a uma mesa bem servida sem pensar naqueles que sofrem de fome. Esse pensamento tornar-nos-á mais sóbrios, comedidos nos nossos apetites e gostos. Pensemos nos milhões de homens curvados sob os ardores do estio ou sob as duras intempéries e que, em troca de um magro salário, retiram do solo os produtos que alimentam nossos festins e enfeitam nossas residências. Lembremo-nos de que, para iluminar nossa casa com uma luz resplandecente, para fazer jorrar nos nossos lares a chama benfeitora, homens, nossos semelhantes, capazes como nós de amar, de sentir, trabalham sob a terra, longe do céu azul e do alegre Sol, e, de picareta em punho, perfuram durante toda sua vida as entranhas da terra. Saibamos que, para ornar nossos salões de espelhos de cristais brilhantes, para produzir os inumeráveis objetos dos quais se compõem nosso bem-estar, outros homens, aos milhares, semelhantes a réprobos na fornalha, passam sua existência no calor calcinante dos altos fornos das fundições, privados do ar, extremados, consumidos antes do tempo, não tendo como perspectiva senão uma velhice desnudada e sofredora. Saibamos que, todo esse conforto do qual desfrutamos com indiferença é comprado com o suplício dos humildes e o esmagamento dos pequenos. Que esse pensamento penetre em nós, nos persiga, obsedie; como uma espada de fogo, ele expulsará o egoísmo dos nossos corações e forçar-nos-á a consagrar os nossos bens, nossos lazeres, nossas faculdades ao aperfeiçoamento do destino dos fracos.



Autor: Léon Denis
Do livro: Depois da Morte.

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