Orgulho e Humildade

Orgulho e Humildade



Bate papo com Paulo Cordeiro





Pergunta: Qual é a origem do orgulho?


Orgulho, definição segundo o Aurélio: "Sentimento de dignidade pessoal, brio, altivez e conceito elevado ou exagerado de si mesmo." 

Definição da Doutrina Espírita: "Imperfeição espiritual que demonstra ausência de humildade."

O orgulho se contrapõe à humildade.

Concluímos que o orgulho é um exagero de auto-valorização como sendo uma opinião a nosso próprio respeito que não se iguala à nossa realidade interior. 


Pergunta: Sabemos, pelos ensinamentos da Doutrina Espírita, que cada pessoa tem seu livre arbítrio, e que não devemos intervir nele. Porém, como atuar com caridade, no sentido de auxiliar a uma pessoa que, por orgulho, mergulha cada vez mais fundo num poço de tristeza e sofrimentos?


O Mestre Jesus sempre ensinou a seus apóstolos, dando como exemplo a Natureza e demonstrando através dela, que as leis de Deus são perfeitas no mundo natural. Nada está fora do lugar na Natureza, nada é falseado no cumprimento das leis de Deus no mundo natural. Com a Doutrina Espírita aprendemos que o espírito também é uma das potências da natureza e criado por Deus para agir naturalmente sob as Leis Divinas. É nosso dever de caridade lembrarmos aos apaixonados pelo orgulho que esse sentimento nos leva a um profundo desequilíbrio dentro do universo, colocando-nos em posição desarmônica com as Leis Superiores. Deus age no universo por nosso intermédio. Devemos, portanto, harmonizar a nossa visão anterior com a Lei de Amor que a tudo preside e lembrarmos aos orgulhosos que ninguém piora. A Lei é de evolução e melhoria infinitas.



Pergunta: Paulo, "O Evangelho Segundo o Espiritismo" nos fala assim: "...sem a humildade, apenas vos adornais de virtudes que não possuís..." Você poderia nos falar um pouco sobre isso?


Definição de virtude segundo o Aurélio: "Disposição firme e constante para a prática do bem." Entende-se, neste sentido, oposição a vício. Também considera o Aurélio: "boa qualidade moral, força moral, valor." Virtude, segundo Kardec: "Conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem." Conclue-se que o homem de bem sabe exatamente quais são as suas dificuldades no trato das virtudes, por isso ele não se dá trégua no aprimoramento de si mesmo. Pergunta sempre a si mesmo se realmente cumpriu com as atitudes necessárias à prática do bem, junto ao seu semelhante.


Pergunta: Como ser humilde sem se tornar servil ou fingido? Como achar o caminho do autocontrole, sem, mesmo que seja em pensamento, exaltar a si mesmo?


Servo no conceito do mundo iguala-se a serviçal, mas servo, no conceito do Cristo, iguala-se a servidor. Serviçal já subentende atitude interesseira, barganha, tentar usufruir com aparência de humildade e sabemos, de antemão, como o mundo trata aos seus serviçais. Mas servidor, com o Cristo, é aquele ser cujo interesse fundamental é levar o seu semelhante ao bem-estar principalmente moral, elevação e valorização de si mesmo por ser ele obra de Deus. E como Deus não é incompetente, nós devemos, com o exercício da humildade, nos conscientizarmos da nossa real posição dentro da vida. Como exemplo, citamos a Natureza: tudo em a Natureza serve a Deus e proclama a sua grandiosidade, como também o seu profundo amor por todas as suas criaturas. Já nos disse Jesus: "Vós sois deuses. Sejamos, pois, dignos daquele que nos criou". 


Pergunta: Sabendo que o orgulho é o adversário da humildade, quais são as conseqüências deste para o espírito?

Primeira conseqüência: Vergonha moral quando for levado a se enxergar tal qual é. Segunda conseqüência: Descobrir que existe inteligências bem mais desenvolvidas que as suas e almas mais capazes que a dele. Terceira conseqüência: Encontrar uma lógica de raciocínio, de conduta, de postura diante da vida em criaturas que ele julgava inferiores e que demonstram uma profunda sabedoria em viver, porque compreende, sente e cumpre a lei de Deus. Daí Jesus ter afirmado a Nicodemos, o doutor da lei, que Deus se revela aos simples e pequeninos que humildemente pensam nele.

Pergunta: Tomando-se por base que o mundo em que vivemos não nos permite expressar nossos sinceros sentimentos e pensamentos, incentivando, muitas vezes através da mídia, a competição entre as pessoas, fazendo com que estas tenham medo de se "mostrarem" como verdadeiramente são, gostaria de saber como podemos saber até que ponto devemos ser humildes, sem cairmos nos limites que fazem uma pessoa humilde ser humilhada?

Nós vivemos num planeta de provas e expiações. O padrão moral das almas que aqui vivem é a imperfeição. Podemos comparar quando olhamos a natureza através de um vidro embaçado. Não há nitidez! Ou seja, não há visão perfeita. Os espíritos perfeitos olham-nos como seres divinos, que estamos sendo burilados através às ações e reações no trato diário uns com os outros. Pouco a pouco vamos corrigindo a nossa visão, o nosso conceito com relação as atitudes dos nossos semelhantes. Podemos dizer mesmo que a reflexão que a Doutrina Espírita nos dá é que no mundo de espíritos imperfeitos podemos esperar tudo dos nossos semelhantes, até o bem. A medida em que a criatura for se conscientizando e observando o seu semelhante com outros olhares, ela não mais vai se decepcionar com as atitudes dos outros, pois compreende que ninguém pode dar o que não possui. Lembramos novamente Jesus: "Doces são sempre os frutos do bem e amargos os frutos do mal." Vamos, portanto, no trato diário, desenvolvendo a nossa coragem moral para aprendermos a conviver em humanidade.

Pergunta: Quando dizemos: Estou orgulhoso de você, em vez de satisfeito, feliz, estamos expondo os nossos caracteres de imperfeição, pela força do hábito, ou é pertinente a quem evolui?

Os amigos espirituais nos afirmam, em "O Livro dos Espíritos", que a grande dificuldade nossa, em termos de expressão, é não usarmos as palavras certas para aquilo que estamos sentindo. Por exemplo, temos uma expressão muito comum em nossas conversas que é a seguinte: "Tenho orgulho em ser humilde". Como podemos verificar, é um verdadeiro absurdo o que estamos dizendo, pois antônimos não se justificam. Devemos mesmo é estudar um pouco mais e refletir muito para quando nos expressarmos, falarmos realmente o que estamos pensando e sentindo. Voltemos a Jesus: "Seja o seu falar: sim, sim, não, não." Quando nós não o compreendíamos, ele tentava nos esclarecer com parábolas convidando-nos a um exercício de atenção, meditação para chegarmos à compreensão.

Pergunta: Existe uma maneira "eficiente" para controlar nosso orgulho?

Primeira maneira: admitirmos que somos orgulhosos. Depois, então, agirmos de modo a dissolver o orgulho dentro de nós.
Segundo o "Dicionário de Filosofia Espírita", o orgulho, junto do egoísmo, é uma das causas de todos os males do coração humano, pois significa que o orgulhoso acha que todos e tudo o que lhe pertence é sempre o mais perfeito, fazendo com que se sobreponha aos demais. Vamos à natureza: Olhemos, por exemplo, as abelhas: nunca se produziu um mel mais saboroso do que delas e a perfeição da construção dos favos nas colméias, nem a engenharia, com todo o conhecimento tecnológico, faz com exatidão e perfeição das abelhas. Será que elas são melhores do que nós?

Pergunta: Sabemos que o principal baluarte da Doutrina Espírita é a prática da caridade. Como devemos agir para que pratiquemos a verdadeira caridade, sem que estejamos, na verdade, agindo por orgulho e sem humilhar a quem recebe?

Em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", cap. XIII: "...Não saiba a vossa mão esquerda..." no ítem: "fazer o bem sem ostentação", nos adverte Allan Kardec, no ítem 3, último parágrafo: "A verdadeira generosidade adquire toda a sublimidade quando o benfeitor, invertendo os papéis, acha meios de figurar como beneficiado, diante daquele a quem presta serviço." Tentemos fazer isso.

Pergunta: Num mundo em que se incentiva tanto a competição nas diversas áreas, como desenvolver a humildade?

O nosso mundo ainda incentiva a competição, levando-se em conta a nossa deficiência de conceitos acerca de nós mesmos. Vemos recordes em todos os setores do desenvolvimento humano. Por que não competir, colocando recordes de resistência ao mal? Por exemplo: falar baixo, quando todos gritam, ser surdo às calúnias, compreender que o nosso adversário tem direito a dar a sua opinião a nosso respeito. O nosso querido Chico Xavier não tem no seu vocabulário o verbete inimigo, ele o chama de amigo estimulante, pois é o único que não falseia a sua opinião a nosso respeito e o nosso Mestre Jesus, conversando com os sacerdotes no Templo, os advertia, dizendo assim: "Nunca deixes de agradecer os benefícios que o teu inimigo te prestou." Ele, o nosso inimigo, o competidor, tem sempre uma lição a nos passar. Que possamos meditar nessas lições e não competirmos conforme o mundo o determina. Sejamos solidários, fraternos, companheiros, irmãos, como Jesus o é de todos nós!

Pergunta: Amigo Paulo, por qual razão percebemos que, quanto mais inteligente, instruído e culto, mais distante de Deus se acha a criatura, chegando ao ponto até de, na maioria das vezes, negar a sua existência?

É sempre pela razão de nós nos apaixonarmos exageradamente pelo nosso raciocínio, a ponto de, infantilmente, acharmos a nossa razão superior a todas as outras. Isto é um conceito exagerado que temos a respeito do nosso modo de pensar. Assim agiam os homens cultos, os intelectuais que negaram, por exemplo, que a Terra girasse em torno do sol. Que não admitiam que as mulheres tinham alma, que os homens são diferentes, porque pensam diferentemente, que eles, os cultos, os doutos, os prudentes, são os únicos que podem explicar a vida. Um exemplo bem simples é a história do homem que não conseguia entender por que a abóbora não nascia na árvore como a Jaboticaba. E dormindo debaixo da jaboticabeira, acordou com uma frutinha caindo na testa. Assim que acordou, exclamou: "Ainda bem que a abóbora nasce no chão!" 

Pergunta: Podemos ser humildes sem a conquista da fé?

Explica-nos a Doutrina que a fé é a adesão, a anuência pessoal a Deus, seus desígnios e manifestações, crença, confiança e nos diz mais: que a fé é a capacidade de sintonia com a mente divina. O Espiritismo preconiza a fé raciocinada, nos adverte Allan Kardec, em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", cap. XIX, item 7: "Fé inabalável só é a que pode encarar de frente a razão em todas as épocas da humanidade." E nos adverte a Doutrina: "Embora a fé não encontre definição precisa nos dicionários, ela é força que surge na própria alma com uma certeza instintiva na providência e sabedoria de Deus. Utilizando-se dela de modo consciente, o homem pode suprimir longas curvas em seu caminho evolutivo. Portanto, reconhecendo-se imperfeito, já é um indício de desenvolvimento da humildade diante daquele que nos criou."

Pergunta: O orgulho é algo negativo, sem duvida, mas muito confundimos este conceito com os conceitos de auto-estima e reconhecimento. Como poderíamos diferenciá-los?

O sentimento de menos valia é uma doença moral que habita com muita facilidade dentro de nós. O Mestre Jesus sempre nos convidou a pensar alto e pensar alto é procurarmos em nós mesmo o que há de divino. Algumas definições dele: "O mais poderoso não será o mais desapiedado, e sim o que mais ame. O mais respeitável não será o dispensador de ouro e poder armado, e sim o de melhor coração. O mais sábio não será o possuidor de mais livros e teorias, mas justamente, aquele que embora saiba pouco, procura acender uma luz nas sobras que ainda envolvem o irmão mais próximo. Como vemos, nós valemos muito para Deus. A desvalorização corre por nossa conta. Mudemos, pois, a maneira de pensar. Deus investiu muito em nossa criação. Portanto, procuremos valer mais como no conceito do Mestre Jesus. Muita paz!!!




Autor: Paulo Cordeiro
Fonte: CELD

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