Inimigo Real |
Geralmente, todos os nossos adversários, no fundo, são nossos
instrutores.
À maneira do martelo que, tangendo a pedra, acaba aperfeiçoando-lhe a beleza, aquele que se coloca em oposição à nossa
maneira de crer, sentir ou pensar, frequentemente é fator de estímulo à elevação de nossos dotes pessoais.
O invejoso, invariavelmente, ensina-nos a prudência, o despeitado
nos induz ao aprimoramento próprio.
O caluniador nos auxilia a marchar no caminho reto e o perseguidor
gratuito nos auxilia a perseverar no bem.
Assim, então, se um inimigo poderoso devemos identificar junto
de nós, na estrada do mundo – inimigo que nos arma as piores
ciladas e nos constrange a cair nas mais escuras armadilhas do
remorso e da dor – esse é o nosso próprio eu, adversário terrível de
nossa verdadeira felicidade, sempre imantado à concha de sombras
em que se refugia sob as paredes da indiferença.
Combatamos a nós mesmos cada dia, em nome do bem que
abraçamos.
Não vale afirmar sem exemplo nem sonhar sem trabalho.
Adquirir conhecimentos superiores para adorá-los com o incenso
de nosso personalismo é transformar a vida em êxtase delituoso,
quando a Terra nos pede rendimento de esforço para a obra
do Bem Infinito.
Guerreemos o inimigo que se oculta, armado de astúcias mil
na fortaleza de nossa animalidade multissecular, dando caça às
suas manifestações de inferioridade, com os dissolventes da compreensão,
do trabalho, da bondade e do amor e asfixiando-lhe o
ignominioso comando, que tantas vezes nos tem arrojado aos
despenhadeiros do crime das reparações dolorosas, ouçamos, nas
torres de nossa alma, a voz do Cristo, o único mentor capaz de
conduzir-nos à bênção íntima da imperecível libertação.
Autor: Emmanuel
Do livro: Indulgência.
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