A Lei da Morte

A Lei da Morte
A Lei da Morte
Berço e túmulo complementam-se nos fios do destino.

A morte não é noite sem alvorada nem dia sem amanhã; é a própria vida que segue sempre.

Julga o homem que a desencarnação seja o epílogo de tudo; a Lei, no entanto, prova-lhe que a sepultura guarda o prólogo de outra vida mais ampla.

Ele fala: — Morrerei! Ela esclarece — Viverás!

Ele blasfema: — Nunca mais! Ela confirma: — Existirás para sempre!

Ele insiste: — Quero o nada! Ela responde: — Impossível!

Ele deblatera: — Aspiro ao não ser! Ela proclama: — Avançarás!

Vates e filósofos inúmeros admitem, há milênios, na morte vinho capitoso de puro esquecimento.

Materialistas e gozadores, nela supõem, há séculos, o travesseiro de chumbo a desfazer-se em névoa e cinza.

Espíritos fracos e infantis no estágio carnal declaram-na marco final do pensamento a embuçar-se em poeira indistinta.


Não te enganes, porém! Ainda mesmo quando o acaso parece triunfar nos sucessos da vida, o Divino Árbitro rege e domina, anotando compromissos e administrando experiências.

A lei da morte é a Vida.

A vida humana é consciência.

E consciência é responsabilidade.

Por isso, não aguardes soluções miraculosas aos problemas que te afligem, a buscar, inutilmente, esperanças no absurdo ou no sobrenatural, e nem te afoites por transitar nos campos do fenômeno, porquanto, via de regra, dele pouco se aproveitam os homens, de vez que a Humanidade não é composta de Newtons a estudar leis universais, através da simples queda de maçãs.

O corpo é o escrínio da terra, a alma é luz da eternidade.

Se aspira a viver na condição de Espírito encarnado, no rumo da morte convertida em vitória nos planos superiores da vida, esposa o serviço do bem como sendo a tua própria razão de ser.

As intercessões que partem da Altura, na lei do merecimento haurido no trabalho em favor dos outros, alteram continuamente o itinerário das existências;  há miríades de mortes retardadas, inumeráveis provações substituídas, austeras expiações minoradas e milhões de golpes frustrados.

Abraça a alma do semelhante além da forma física, auscultando-lhe as dores íntimas com o fi m de compreendê-lo e auxiliá-lo.

O ato de amor possui a incorruptibilidade do Sol.

Só a fraternidade profundamente desinteressada e praticada, reunindo e sublimando Espíritos, ato por ato, de lar em lar, de caminho em caminho e de ombro em ombro, pode alçar-nos da morte à vida, em elevação permanente, como quem abandona em definitivo o convívio da sombra para identificar-se à plena luz.



Autor: Romeu do Amaral Camargo
Do livro: Seareiros de Volta.

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