Os Espíritos Inferiores

Os Espíritos Inferiores
Os Espíritos Inferiores
Pungente é a desolação do avarento que vê dispersar-se o ouro e os bens acumulados pelos seus desvelos. A esses permanece preso, apesar de tudo, atormentado por uma terrível ansiedade, entregue a transportes de fúria indescritível.

Digna, também, de piedade é a situação dos poderosos orgulhosos, daqueles que abusaram de sua fortuna e de seus títulos, pensando apenas na glória e no bem-estar, desprezando os pequenos, oprimindo os fracos. Para eles, não há mais aduladores servis, servidores diligentes, nem moradas, nem roupas suntuosas. Despojados de tudo o que fazia sua grandeza terrestre, a solidão e a nudez os aguardam no Espaço.

Mais assustadora ainda é a condição dos espíritos cruéis e rapaces, criminosos de toda espécie, daqueles que fizeram correr o sangue, ou esmagaram sob os pés, a justiça. As lamentações, as maldições de suas vítimas ressoam aos seus ouvidos durante um tempo que lhes parece a eternidade. Sombras irônicas e ameaçadoras os envolvem, os perseguem sem descanso. Não há para eles refúgio profundo demais, escondido demais, e é em vão que procuram o repouso e o esquecimento. A entrada num caminho escuro, a miséria, o rebaixamento, a escravidão podem somente atenuar seus males.


Nada se iguala à vergonha, ao terror da alma que vê erguer-se diante de si, incessantemente, existências culposas, cenas de assassínios e de espoliação; sente-se desnudada, desvendada pela luz que faz reviver seus atos mais secretos. A recordação, esse ardente aguilhão, queima-a e rasga-a. Quando se conhece esse sofrimento, compreende-se e abençoa-se a providência divina, que nos poupa durante a vida terrestre e nos dá, assim, com a calma do espírito, uma maior liberdade de ação para trabalhar pelo nosso aperfeiçoamento.

Os egoístas, os homens exclusivamente preocupados com seus prazeres e seus interesses, preparam-se, assim, para um penoso futuro. Não tendo amado senão a si próprios, não tendo ajudado, consolado, sustentado a ninguém, não encontram, por sua vez, nem simpatia, nem socorro nessa nova vida. Isolados, abandonados, veem passar o tempo, monótono e lento. Um morno tédio os abraça. A nostalgia das horas perdidas, da existência desperdiçada, o ódio pelos interesses miseráveis que os absorviam, tudo isso os corrói, os devora. Sofrem, erram, até que um pensamento caridoso venha até eles e brilhe na sua noite como um raio de esperança, até que, pelos conselhos de um espírito benfeitor e esclarecido, rompam, através da sua vontade, a rede fluídica que os encerra e decidem entrar num caminho melhor.

A situação dos suicidas tem muita analogia com a dos criminosos; é, às vezes, pior ainda. O suicídio é uma covardia, um crime, e suas consequências são terríveis.



Autor: Léon Denis
Do livro: Depois da Morte

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