As questões sociais preocupam vivamente nossa época. Percebe-se que os progressos da civilização, o crescimento enorme do poder produtivo e da riqueza, o desenvolvimento da instrução não têm podido extinguir o pauperismo, nem curar os males do maior número. Entretanto, os sentimentos generosos e humanitários não foram extintos. No coração das multidões aninham- se instintivas aspirações para a justiça, como o sentimento vago de uma sociedade melhor. Compreende-se, geralmente, que uma repartição mais equitativa dos bens da vida é necessária.
Daí, mil teorias, mil sistemas diversos, tendendo a melhorar a situação das classes pobres, a assegurar a cada um, pelo menos, o estritamente necessário.
Mas a aplicação desses sistemas exige da parte de uns, muita paciência e habilidade, da parte de outros um espírito de abnegação que faz, muitas vezes, falta. Ao invés dessa mútua benevolência que, aproximando os homens, lhes permitiria estudar em conjunto e resolver os mais graves problemas, é com violência e a ameaça na boca que o proletário reclama seu lugar no banquete social; é com amargor que o rico confina-se no seu egoísmo e recusa-se a abandonar aos famintos as menores migalhas da sua fortuna. Assim, um fosso se abre, e os mal-entendidos, as cobiças, os ódios acumulam-se dia a dia.
O estado de guerra ou de paz armada que pesa sobre o mundo mantém esses sentimentos hostis. Alguns governos, alguns Estados, dão deploráveis exemplos e assumem pesadas responsabilidades, desenvolvendo os instintos belicosos, em detrimento das obras pacíficas e fecundas. Como poderíamos reconciliar as classes entre si, apaziguar as más paixões, quando tudo nos convida à luta e as forças vivas das nações estão voltadas para a destruição?
Autor: Léon Denis
Do livro: Depois da Morte
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário ou sugestão! Sua opinião é muito importante para nós!