Riqueza

Riqueza
Se Jesus prometeu a entrada dos reinos celestes aos humildes e aos pequenos, é que a riqueza e o poder engendram muito frequentemente o orgulho, enquanto que uma vida laboriosa e obscura é o elemento mais seguro do progresso moral. No cumprimento de sua tarefa cotidiana, as tentações, os desejos, os apetites malsãos assediam menos o trabalhador; ele pode abandonar-se à meditação, desenvolver sua consciência; o homem mundano, ao contrário, é absorvido pelas ocupações frívolas, pela especulação ou pelo prazer.




A riqueza nos liga à Terra através de vínculos tão numerosos e tão íntimos, que a morte consegue raramente rompê-los, libertando-nos. Daí as angústias do rico na vida futura. É, entretanto, fácil compreender que, na realidade, nada é nosso,
nesse mundo. Esses bens, aos quais atribuímos tanto valor, pertencem-nos apenas na aparência. Centenas de outros depois de nós embalar-se-ão nas mesmas ilusões, e todos os abandonarão cedo ou tarde. Nosso próprio corpo é um empréstimo da Natureza, e ela sabe bem no-lo retomar quando lhe convém. Nossas únicas aquisições duráveis são de ordem intelectual e moral.


Da paixão pelos bens materiais nascem frequentemente a inveja e o ciúme. Quem traz em si esses vícios pode dizer adeus a qualquer repouso, a qualquer paz. Sua vida
torna-se um tormento perpétuo. Os sucessos, a opulência do próximo despertam nele ardentes cobiças, uma febre de posse que o consomem. O invejoso não pensa senão
em eclipsar os outros, adquirir riquezas que não sabe nem mesmo desfrutar. Haverá uma existência mais lamentável! Perseguir incessantemente uma felicidade quimérica,
colocar toda sua alma nessas vaidades cuja perda nos desespera, não é criar para si um suplício a todo instante?


A riqueza não é, todavia, um mal em si mesma.É boa ou má, segundo o emprego que dela se faz. O importante é que ela não inspira nem orgulho nem dureza do coração.
É preciso ser o senhor da sua fortuna e não seu escravo, mostrar-se superior a ela, desinteressado e generoso. Nessas condições, a prova perigosa da riqueza torna-se mais fácil de se suportar. Ela não amolece os caracteres, não desperta essa sensualidade quase inseparável do bem-estar.


Autor: Léon Denis
Do livro: Depois da Morte

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