À dezoito de abril de 1857 Allan Kardec leva à público a primeira edição de "O Livro dos Espíritos", que mais tarde, em sua versão final (atual), passaria a conter 1019 perguntas numeradas, totalizando, quando consideramos as subperguntas, 1213 questões, com temário amplo e diversificado, respondidas de forma muito clara e objetiva pelos Espíritos responsáveis por trazer ao mundo novas interpretações das verdades eternas e universais.
Mas é necessário constatar e diríamos, admirar, a importância do trabalho de Kardec, que a princípio, segundo seus biógrafos, organizou cadernos e cadernos de questões já levadas aos Espíritos em reuniões familiares diversas, anteriores a 1855, ano em que ele próprio, mais de perto, pode questionar às entidades superiores sobre a Vida e a morte; o Universo e Deus; o Futuro e o nada; o Mundo imaterial enfim.
Realizando um levantamento mais atencioso, percebemos que ao menos um quinto do livro é de autoria do próprio Allan Kardec, o que dá à ele uma participação efetiva na condução dos raciocínios que se faziam tão novos no borbulhante século das luzes. Se por um lado a Doutrina Espírita deve ser compreendida como o Ensino dos Espíritos superiores, sem a figura de um revelador divino encarnado, não é menos verdade que a capacidade de aliar técnicas para melhor aproveitamento desses ensinos estava toda definida no perfil do emérito educador lionês. Kardec soube extrair dos ensinos espasmódicos dos Espíritos, um bojo uno, homogêneo, que filtrado pela universalidade dos ensinos, trouxe à lume um harmonioso conjunto, com pensamento definido, possuidor de início, meio e fim, conclusivo, objetivo, como dissemos.